Livro escrito pela jornalista Cristiane Correa mostra o segredo do sucesso de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira
Campinas – “Sonho Grande”, livro que apresenta a trajetória e revela os bastidores dos negócios bilionários de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, foi o tema do encontro com a jornalista Cristiane Correa, ex-editora-executiva de EXAME, na noite de ontem, na sede da IBE Conveniada FGV. Escrito a partir de entrevistas com cerca de 100 pessoas, o livro mostra as lições do trio, desde a época em que estavam à frente da GP Investimentos.
Cristiane Correa fala sobre o livro Sonho Grande na IBE Conveniada FGV Campinas
Durante a palestra, Cristiane revelou não ter sido fácil colher as informações necessárias para o livro, uma vez que os bilionários não quiseram conceder entrevistas. “Eu trabalhava na EXAME e fazia matérias com eles. Em 2007 falei (com Marcel) sobre a possibilidade de aparecer em um livro. Ele encaminhou o e-mail e Jorge Paulo respondeu ‘não tenho saco pra isso; nossa historia não terminou. Não gosto de aparecer’. Mas eu sou pentelha”, brincou a empreendedora. “Muitas pessoas me tacharam de louca quando revelei sair da EXAME para escrever o livro. Mas hoje elas me chamam empresária”, disse.
O livro discorre a história dos ex-banqueiros do Garantia, comprado em 1998 por CS First Boston, um dos maiores bancos de investimento do mundo ligado ao Credit Suisse, que comprou as Lojas Americanas em 1982. Cerca de uma década depois, adquiriram a cervejaria Brahma que, tempos depois, fundiu-se com a Antarctica, criando a Ambev e, internacionalmente, deu origem à InBev. Por fim, adquiriram a Anheuser-Busch, criando a AB InBev. Nos últimos anos, também tornaram-se donos da rede mundial de lanchonetes Burger King e a marca de alimentos Heinz. O livro foi lançado pela Editora Sextante em abril deste ano e pode ser encontrado para compra em livrarias e portais online.
Confira alguns dos conceitos que levaram esses megainvestidores ao sucesso:
Meritocracia. “Aqui (no Brasil), você não ganha por tempo de casa, parentela ou algo assim. Você ganha por resultado. Ele (Jorge Paulo Lemann) acredita que deve dividir pra poder fazer o bolo crescer. Hoje é o homem mais rico do Brasil, mas isso provavelmente não seria possível se ele não fizesse o mesmo pelos outros”.
Partnership. “Se você tem bons caras trabalhando com você, talvez eles não mereçam ser apenas bonificados, mas fazerem parte da empresa”.
PSDs sigla traduzida do inglês para pobre, esperto e doido pra enriquecer. “Essa era a pessoa que eles buscavam. Inclusive eles fazem parte dos programas de seleção de trainees, pois, na concepção deles (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira), precisam pegar gente nova e formar o profissional dentro de casa”. Dentro da empresa, não pode haver parentela. “Os filhos deles não podem trabalhar nas empresas. Eles podem ser estagiários, fazer parte dos processos de seleção, mas não podem, por acordo, fazer parte da empresa”, completou.
Simplicidade. “Concentração no que está fazendo e esquece o resto. Isso explica um pouco porque eles não gostam de aparecer na imprensa. Não acreditam em alardear os negócios, mas em ter sempre o foco no resultado. Eu descobri a foto da capa (sobre o livro) em Harvard e compramos a foto”, revelou a jornalista.
Controle de custos. “Beto diz que custo é como unha, tem que cortar sempre. Porquê isso? Porque se gastar a mais, não tem dinheiro para distribuir em bônus. E o bônus tem que ser pra todo mundo”.
Cristiane abriu espaço para que os convidados participassem e fizessem perguntas. Abaixo, seguem algumas curiosas questões reveladas pela jornalista.
Participante: Convivi com pessoas que não consumiam produtos de outras marcas. Você sabe o porquê disso?
Resposta: “A lógica deles é a seguinte: Você trabalha na empresa e não acredita na empresa? Como você pode acreditar na empresa e dar dinheiro para outra pessoa?”
P: Qual foi o papel do Falconi (consultor) na empresa?
R: “Falconi foi importante, pois eles tinham cabeça de empresários, não de fabrica. Ele colocou processo e ajudou para que as metas caíssem para todos os níveis”.
P: Lendo o livro e ouvindo a palestra pensei se ainda não há incoerência em ver com olhos ruins os funcionários que gastaram suas fortunas na época do Garantia.
R: “Não é pra ser deslumbrado, pois perde o foco no futuro. Na cultura do Garantia não havia cabimento. Não era pra esbanjar”.
P: Eu trabalho em uma empresa fabricante de parafusos com cultura japonesa. Nosso presidente nos orientou ler seu livro. Como podemos nos aproximar do sistema de Jorge Paulo?
R: “Se o pessoal de cima (donos do negócio) mandou ler o livro, leiam. Apesar da cultura japonesa, geralmente, valorizar a hierarquia familiar, acredito que o primeiro passo para esta mudança de sistema seria promover quem dá resultado e definir metas individuais.”
P: O Jorge Paulo é descrito como tranquilo. Mas olhando alguns colaboradores, parecem uma manada de búfalos! Como pode essa diferença?
R: “Ele se cerca das pessoas que tem essas características. Talvez, se fizesse o livro antes, não tivéssemos essa descrição de Jorge Paulo”, finalizou Cristiane Correa.