Sem grana pro coach? Aprenda a criar seu próprio plano de carreira – Contar com ajuda especializada para planejar a carreira é útil, mas dá para organizar um plano por conta própria. O cuidado, porém, deve ser redobrado para que o projeto avance na velocidade desejada.
Isso porque, sem alguém que cobre resultados e aponte problemas, cabe à pessoa ser seu próprio coach.
E, embora seja fácil encontrar materiais que podem ajudar nessa busca, como livros de especialistas em recursos humanos e coaches, não há receita simples: só não cai no conto da autoajuda barata quem já tem o hábito de ler muito sobre o assunto.
“Esse filtro só se adquire na prática, quando a pessoa já testou o que funciona na vida real. Só que, no começo, a tentação de comprar ideias que prometem benefícios com pouco esforço é grande”, afirma Villela da Mata, presidente da SBCoaching (Sociedade Brasileira de Coaching).
Dicas boas são aquelas capazes de ajudar a identificar de forma honesta suas fraquezas e a construir planos de ação sem criar desculpas e sem se desesperar com as dificuldades, diz Wilma Dal Col, diretora da consultoria de RH Right Management.
Mesmo sem uma receita universal, há alguns passos indispensáveis para avançar na carreira (veja abaixo). O primeiro deles é estabelecer uma meta clara, como ser promovido no próximo ano ou mudar de área.
A administradora Cristiane Chiaroni, 41, estipula sozinha, a cada seis meses, seus novos objetivos profissionais.
Ela aprendeu a montar seu plano conversando com colegas da área de RH e usando ferramentas como mentoria e coaching, oferecidos na empresa onde trabalha.
Ao longo da trajetória, aprendeu a não ter pressa para alcançar o objetivo e a reajustar os planos se preciso.
“A sorte pode pesar na ascensão, e há questões que estão fora do nosso controle, mas me planejo mesmo assim. Se a coisa muda, revejo o plano e sigo em frente.”
Para Tania Casado, que é doutora em administração e professora da USP, é comum apresentar dificuldades para se adaptar quando as circunstâncias atropelam os planos. “A pessoa se organizar não deve significar que ela não pode ser maleável. Até ela mesma muda de ideia. Não há nada de errado com isso.”
NA PRÁTICA
Na sequência, vem a parte mais difícil: descobrir como alcançar o objetivo. Isso não envolve apenas fazer um curso ou acionar a rede de contatos, mas rever ou aperfeiçoar comportamentos que podem ofuscar o trabalho do profissional, como baixa habilidade de comunicação.
Um exemplo é aquela pessoa que tem dificuldade de falar com os colegas ou com o chefe. Se não tivesse esse problema, como ela se portaria? “Ao responder essa questão, é provável que já tenha a resposta que precisa”, aponta Dal Col.
Esse processo de descobrir as próprias forças e fraquezas pode ser demorado, segundo o doutor em psicologia e professor da USP Sigmar Malvezzi. “É fundamental mapear a própria biografia, colocando isso no papel. Fazer isso direito pode levar meses”, diz.
E é preciso trabalhar um pouquinho por dia, estipulando, além da meta final, objetivos mais simples -a sensação de avanço, mesmo que pequeno, faz com que a pessoa consiga visualizar melhor os próximos passos.
Os programas de gestão de carreira das empresas também podem ajudar a identificar esses pequenos ajustes.
O coordenador de projetos Davi Petruz, 32, soube que precisava aprender mais sobre as novidades na área de tecnologia, como codificação, com o coach da organização onde trabalha.
“Já coloquei tudo em uma lista, com prazo para terminar. Com ele, aprendi a me planejar sozinho para encaixar as atividades e bater minha meta, que é chegar à gerência da área”, diz.
Quem não tem um programa desse tipo no trabalho pode bolar o plano com um amigo, segundo a coach Bia Nóbrega. Assim, um pode auxiliar o outro com ideias.
É uma tática útil para manter a disciplina, principal problema de quem se propõe a montar um plano de carreira sem respaldo profissional.
O que não adianta é você se submeter a uma pressão excessiva para cumprir os prazos que estabeleceu a qualquer custo.
“Esse monitoramento dos avanços deve ser algo espaçado, ou a pessoa vira refém de um plano que deveria ser positivo”, afirma o coach Aristides Brito.
VOO SOLO
Como planejar os próximos passos por conta própria
ENCONTRE PROPÓSITO
Coaches e consultores de carreira aconselham que as metas estabelecidas sejam específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e que tenham um prazo claro de execução. Não adianta escolher algo vago, como “ter sucesso na carreira”. A ideia é se concentrar em progressos mais palpáveis, como ser promovido em um ano ou passar num exame de proficiência de inglês. Coloque o objetivo no papel e quebre-o em atividades diárias, semanais e mensais para monitorar os avanços
SEJA HONESTO
Pode ser difícil ter uma noção clara das próprias forças e fraquezas. Por isso, na ausência de um coach, vale questionar amigos, parentes e ex-colegas de trabalho ou estudo antes de fazer uma autoavaliação. Para receber uma resposta mais honesta, a dica é perguntar três aspectos positivos e negativos de sua personalidade e da forma de trabalhar e três comportamentos que deveriam ser abandonados ou incorporados à rotina. Também é vital elencar o que é mais importante, como qualidade de vida, ascensão rápida, altos salários ou horário flexível, por exemplo
ANOTE TUDO
Montar um plano de ação envolve colocar em uma planilha as metas de curto e médio prazo, além de estabelecer prazos para que elas sejam cumpridas. Por exemplo, se a ideia é ser promovido, inclua na lista cursos de capacitação e conversas com gestores da área. Se não for possível completar tudo a tempo, não se frustre. Mas, se o padrão se repetir com frequência, vale reavaliar as prioridades do dia a dia ou estender os prazos para que caibam na rotina
SAIBA PRIORIZAR
Ao criar um plano de carreira por conta própria, o profissional deve tomar cuidado para não ser engolido pelas prioridades urgentes e acabar sem tempo de investir em seu projeto. Por isso, é preciso diferenciar atividades urgentes e importantes daquelas que podem ser delegadas ou deixadas para depois. Organize o dia de forma a tirar do caminho o que é urgente, assim sobra tempo para cuidar do que é importante, mas não exige atenção imediata
Fonte: Folha de São Paulo