PERDER PARA GANHAR
Eline Rasera
Quando o Brasil foi escolhido como o país que sediaria a Copa do mundo de 2014, a grande maioria demonstrou alegria e muita satisfação por esse evento. Embora houvessem inúmeras razões (ou interesses) em jogo, o que se via e ouvia era a projeção “majestosa” do país pelo mundo. Nossa nação iria ser o centro do planeta durante um mês. Muita emoção e expectativa positiva. Promessas e planos para o melhor. Possibilidade de algo sair errado? Naquele momento não! Provavelmente alguns até levantaram algumas questões pertinentes, mas não! Tudo seria perfeito, afinal, temos bons profissionais e recursos para dar conta do desafio.
Alegria as vezes se transforma em euforia, que é sempre a busca pelo prazer. E é assim que funcionamos. Em nosso cérebro, … “O núcleo accumbens,… (integrante do sistema límbico, é parte decisiva do circuito do prazer,) … é a estrutura que recria as sensações prazerosas experimentadas… considerando-se que ele não faz contas daquilo que podemos perder ou ganhar ao seguirmos nossos impulsos e transformarmos nossos prazeres em urgência.” L.F.Garcia
E o prazer como forma de sobrevivência, tem sua força também no cérebro. Buscamos a todo custo a felicidade. Ele (o prazer) é fisiológico e necessário para o ser humano. Alimentação, sexo, motivação, criatividade, alegria, tudo tem a ver com a satisfação que resulta na continuidade da vida. Buscamos, nos relacionamentos, trabalho, no dia a dia, um retorno que alimente nossa mente e nosso corpo e nos mantenha vivos e motivados perante a vida. “Uma vez que a capacidade de sentir prazer está bem no centro de nossa existência e da tomada de decisões…” L.F.Garcia,
E é claro que o prazer em si não é algo ruim.
Mas a vida não é só isso. Viver (e não somente sobreviver) exige muito mais. Lidar com as adversidades é tão inerente à vida, como o é a busca pelo prazer.
Então, no Brasil com a Copa do Mundo 2014, teremos uma grande festa. Nosso futebol é o melhor, somos campeões, temos nossos ídolos.
Mas, o Brasil perdeu o jogo, o Brasil perdeu a Copa.
Adversários mais preparados, um acidente, emocional abalado e pronto! Mudanças no “meio de campo.”
E por que o país chorou? Chorou porque viveu somente a ilusão. Chorou porque acreditou na magia da vida sem contar com as adversidades. Chorou porque sentiu na alma a realidade da qual temos pouco ou nenhum controle. É a vida!
Não estamos humilhados somente pela derrota dos 7 a 1. Estamos humilhados porque não nos preparamos o suficiente para competir. É assim na vida, na profissão, no jogo. E preparação tem a ver com aprendizagem, conhecimento, estratégias, tecnologia, treino, muito treino. Deu visibilidade ao que não queríamos ver.
E agora? Agora, reforça o sistema imunológico da dor emocional, engole o choro, ergue a cabeça, estufa o peito e segue em frente.
Mas não para qualquer lugar. Não a esmo e não do mesmo jeito.
Aprenderemos com tudo isso. Resiliência – segundo Fabio Munhoz da Psicologia Positiva “Resiliência é a habilidade de se adaptar e superar com sucesso frente aos desafios e as situações estressantes. É a superação das adversidades de forma saudável e construtiva”.
É isso. Saudável e construtiva!
O país amadureceu. Na dor, mas amadureceu. O prazer, a alegria, o riso, a euforia, tudo isso é muito bom, mas não antes do sucesso.
Como podemos mudar e tomar um rumo diferente que garanta uma vida saudável, com condições adequadas, dignidade e respeito, para uma sociedade mais justa e assim, mais feliz?
Vamos usar e abusar do nosso jeito afetuoso de receber e abraçar a todos os convidados e vamos juntos, unidos num abraço bem brasileiro e com todos os brasileiros, em busca pelo melhor para todos. Vamos usar nossa criatividade com projetos de melhorias, e nossa garra e coragem para participar mais ativamente das decisões políticas. Vamos participar da nossa sociedade com a mesma força e emoção que torcemos pelo futebol.
Menos ilusão e mais realidade.
É hora de mudar. Aprendemos dessa vez. Chega de derrotas!
“As vezes quando a gente perde, a gente ganha” (trecho do filme “Amor Além da Vida”).
Eline Rasera, psicóloga, coach e professora do curso de Pós-graduação em Administração de Empresas da IBE Conveniada FGV.
Fonte: http://www.panoramadenegocios.com.br/2014/07/coluna-da-professora-e-psicologa-eline_17.html