Pandemia mudará nossos hábitos para sempre. Mas, a que custo?

hábitos_plantão coronavírus

Os especialistas nos mais diversos setores ainda especulam o que a humanidade aprenderá com essa crise sanitária sem precedentes e se haverá um legado positivo. E se sim, a que custo?

Mudanças são evidentes em todos os âmbitos. Reportagem do Correio Braziliense, publicada em maio, explica que com o distanciamento social alguns indicadores do meio ambiente tiveram melhoras expressivas em termos globais, como a qualidade do ar e da água e o ressurgimento de espécies da fauna. No comportamento social, há avanços, como demonstrações de solidariedade, maior convívio em família e conscientização sobre a importância de hábitos de higiene.

Em artigo para a Forbes, esta semana, o médico e professor de medicina da USP, Arthur Guerra, reforçou que os hábitos de higiene devem mudar para sempre – como lavar as mãos -, e isso será muito bom para a saúde, mas levará a mais gasto de água.

“Evidentemente, lavar as mãos várias vezes ao dia com água limpa e sabão deveria ser algo acessível a todos. Infelizmente, não é.” Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, apontam que mais de 2 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico, o que significa que não podem lavar as mãos nem ter cuidados de higiene adequados.

Mesmo com acesso a água tratada, entretanto, a maioria das pessoas tinha maus hábitos de higiene, como indicam várias pesquisas. “Lavar bem as mãos antes das refeições, após usar o banheiro ou após tocar lugares sujos não era um comportamento regular. Agora está virando”.

Qualquer tipo de benefício, no entanto, não é motivo de celebração, pois terá sido às custas de milhares de mortes.

 

Meio Ambiente

Ainda conforme matéria do Correio Braziliense, o especialista em Sustentabilidade na Universidade de Nijenrode, na Holanda, Eugenio Singer, presidente da Ramboll no Brasil, destaca que os paradoxos são interessantes.

“Todo o fechamento resulta numa abertura que pode ser mais disruptiva do que vinha acontecendo normalmente. Por questões óbvias, (o vírus) resultou e impactou em questões sociais, ambientais, econômicas”, avalia. “A covid fez pelo meio ambiente o que as 25 COPs (Conferência das Partes da convenção das Nações Unidas sobre mudança climática) não fizeram”, diz.

Singer afirma à reportagem que estudos de agências espaciais mostram claramente a redução dos níveis de dióxido de nitrogênio. “A estimativa inicial é a de salvar 50 mil vidas com a queda da poluição, porque isso reduz problemas respiratórios. Com menor tráfego marítimo, a qualidade da água melhorou e os peixes voltaram”, destaca. No entanto, o especialista aponta outros ganhos, além dos ambientais, como a utilização de plataformas digitais, que transformaram as reuniões laborais. “A produtividade do trabalhador aumentou, porque ele deixa de perder tempo se deslocando”.

Políticas públicas

“Uma lição que o país deve levar da pandemia é como definir novas políticas públicas no pós-crise. Qual será a reação ao emprego, à mobilidade. O modo de trabalhar vai mudar. É injusto uma pessoa ter que se locomover duas horas e meia e gastar cinco horas por dia dentro de um transporte público. Isso certamente deve alterar a questão de mobilidade”, analisa.

No entender de Mariangélica de Almeida, advogada especialista em Direito Ambiental, o coronavírus deixou claro que muito precisa mudar. “Houve um despertar para coisas desnecessárias. O deslocamento, por exemplo. Ficou evidente a maior produtividade no teletrabalho. No órgão onde trabalho, a produtividade aumentou 30%; e 70% das pessoas devem permanecer em casa”, ressalta.

Toda a redução no ambiente de trabalho significa menos emissões no trânsito, menor utilização de papel, com árvores preservadas, além de redução no consumo de energia nos escritórios, enumera. “Será preciso repensar decisões, porque certos gastos estão migrando para a casa das pessoas”, alerta. Almeida pondera que até o desperdício de alimentos cai com a maior presença da pessoa em casa: “Aumenta a compra por aplicativo, com redução no uso das sacolas plásticas”.

Alguns efeitos podem não ser tão positivos para o meio ambiente, ressalta a advogada. “O lixo hospitalar está aumentando, com o descarte de máscaras e de embalagens de álcool em gel. Além disso, o hábito de lavar as mãos, embora positivo no aspecto social e sanitário, amplia o consumo de água”, pontua.

A melhoria na qualidade do ar foi sensível em todos os países que promoveram quarentenas. No Brasil, segundo a professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP) Regina Maura de Miranda, especialista em poluição atmosférica, a redução foi significativa em São Paulo, sobretudo, nas duas últimas semanas de março, com grande adesão à quarentena. “Houve queda do monóxido carbono (CO2), emitido por veículos leves, e também do dióxido de nitrogênio (NO2), mais relacionado ao diesel. Os dados de abril também estão abaixo do normal”, revela.Continua depois da publicidade

 

Conscientização

Na opinião de Heinrich Hasenack, professor de departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as melhorias percebidas na qualidade do ar não serão perenes. “Acredito que a poluição deve voltar aos mesmos níveis de antes da pandemia, assim que as indústrias voltarem a produzir a todo vapor e os carros retornarem às ruas”, opina. Contudo, o lado positivo, segundo o professor, é que será possível mensurar melhor. “Quando soubermos como houve a redução e o que contribuiu para ela, isso pode orientar políticas públicas a fim de encontrar um meio termo”.

Hasenack alerta, no entanto, que a redução da poluição do ar que ocorreu em vários países não “fará cócegas” nas mudanças climáticas se não provocar uma conscientização. “O desafio é se a sociedade vai querer isso”, sustenta. O professor pontua que a redução das emissões decorrentes do menor consumo de combustíveis fósseis pela indústria e no movimento de veículos era esperada. “Mas só contribuirá para amenizar as mudanças climáticas se efetivamente diminuir após a pandemia”, reitera.

 

Outro fenômeno foi o reaparecimento de animais (veja mais na arte ao lado). De acordo com Paulo Brack, professor de Instituto de Biociência da UFRGS, é normal que a fauna se aproxime de centros urbanos por conta do menor ruído. “Muitas pessoas estão se dando conta de que o ritmo que a gente tinha não dá para ser retomado e que fazemos parte de um ecossistema”, afirma. Segundo ele, estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que 8,8 milhões de pessoas morrem por ano em consequência da poluição do ar.

O cientista explica que o sistema imunológico responde à qualidade de vida. “Passada a pandemia, será necessário pensar em manter a qualidade de vida, rever a matriz produtiva, converter a indústria a uma produção mais limpa, eliminar ou reduzir os gases de efeito estufa”, elenca. “Com esse momento de alívio, eu me pergunto se não estamos entrando num colapso ecossistêmico”, diz.

 

Pessimismo

Um questionamento ainda mais pessimista tem Alexandre Toshiro Igari, pesquisador, orientador e vice-coordenador no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da EACH-USP. “Tenho uma expectativa ruim de que não vamos tirar nada de bom dessa crise. A pandemia mostra o lado ruim da sociedade, como representantes da indústria colocando na mesma balança vidas humanas e a sobrevivência de empresas. Temo que sociopatia, egoísmo e consumismo prevaleçam”, lamenta.

Contudo, o pesquisador reconhece que muitos fenômenos foram positivos. “Vimos águas-vivas por canais, cangurus na Austrália, a vida selvagem vindo à cidade, com menos gente nas ruas. Isso mostra como as nossas atividades afetam negativamente o meio ambiente”, assinala. “Talvez seja possível uma ponderação sobre o nosso estilo de vida e nossas escolhas. Por exemplo, ao trabalharem em casa, as famílias estão experimentando uma reconexão positiva.”

A mudança de costume no que se refere a lavar as mãos deverá se manter nos próximos anos. Nós, adultos, estamos sendo educados para isso. Com relação às crianças, as famílias e a escola deveriam promover a educação continuada delas com relação aos bons hábitos de higiene.

Acredito que testemunharemos pessoas mais preocupadas com a higiene pessoal e mais atentas ao fato de não levar as mãos sujas à boca e aos olhos. Isso é muito bom, pois, além de ajudar na prevenção contra o coronavírus, também contribui para a redução da disseminação de outras doenças, como gripe, conjuntivite, diarreia e outras viroses.

 

Confira as 10 tendências de hábitos para o mundo pós-pandemia

  1. Revisão de crenças e valores
  2. Menos é mais
  3. Reconfiguração dos espaços do comércio
  4. Novos modelos de negócios para restaurantes
  5. Experiências culturais imersivas
  6. Trabalho remoto
  7. Morar perto do trabalho
  8. Shopstreaming
  9. Busca por novos conhecimentos
  10. Educação a distância

 

Fontes: Forbes, Correio Braziliense e El País

Fique por dentro

Assine nossa Newsletter e receba as novidades por email
Get in touch

872 Arch Ave. Chaska, Palo Alto, CA 55318
[email protected]
ph: +1.123.434.965

Work inquiries

[email protected]
ph: +1.321.989.645