Na vida corporativa assim como na vida pessoal, existem tempos necessários para o amadurecimento e reflexão sobre o fazer cotidiano. Não raras vezes caímos no automatismo que nos leva ao “tarefismo ” que reproduz o modus operandi que tende a não se preocupar com o aprimoramento daquilo que é realizado e, até mesmo, sobre o porquê da atividade. E este aspecto deve ser um alerta para todos nós nas organizações em que nos encontramos. Como auxílio às nossas reflexões, vários livros poderiam ser citados e, com certeza, todos eles seriam de grande contribuição para que o profissional fuja do vício do tarefismo e da mesmice corporativa. No entanto, gostaria de falar de uma dimensões da educação que cabem a todos e são prerrogativas fundamentais para este milênio. Sob a coordenação de Jacques Delors, político europeu de nacionalidade francesa que presidiu a Comissão Européia entre 1985 e 1995, o livro Educação: um Tesouro a Descobrir, aborda os quatro pilares de uma educação para o século XXI, que podem ser inteiramente aplicados à dimensão profissional. Na página 89, está escrito: “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permite navegar através dele”. Nestes tempos de crise e instabilidade, me pergunto se a educação que recebemos nos preparou para tanto e se as organizações contemporâneas criam um ambiente propício à educação continuada de seus colaboradores que permita estender o olhar para as diversas possibilidades que nos circundam.
No livro, a prática pedagógica deve preocupar-se em desenvolver quatro aprendizagens fundamentais. Os RHs e escolas de educação executiva muitas vezes negligenciam tais aspectos que serão, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento. São eles: aprender a conhecer, que em um mundo com excesso de informação e tecnologias midiaticas, assume contornos essenciais para a formação ampliada e diversa, desde que haja abertura para o conhecimento; aprender a fazer que é um dos pontos de maior dificuldade nas organizações, que investem muito em treinamentos, capacitações e formação continuada, e que deve orientar o colaborador para correr riscos, errar mesmo na busca de acertar e a coragem de executar; aprender a conviver que nos leva a pensar naquilo que talvez seja nosso principal desafio, o da convivência, da tolerância, do respeito à diversidade, enfim, o exercício da empatia e solidariedade como caminho para o entendimento; e, por fim, aprender a ser, que integra as outras três perspectivas e explicita nossa necessidade de vivenciar aquilo que cremos, nossos valores, virtudes e nosso papel cidadão, dando sentido e objetivo à vida.
Cabe a nós a vigilância para não cairmos em uma espiral de execução mecânica que nos expropria do nosso princípio de humanidade e esteriliza nossas possibilidades de crescimento e superação de desafios. É um exercício diário, que nos impõe a reflexão e disciplina como necessidade imperativa para a evolução e mudança para níveis mais elevados de consciência e civilidade.
Heliomar Quaresma