O índice de Expectativas Juvenis, na proposta da Encuesta Iberoamericana de Juventudes, construiu-se para coletar mais e melhores evidências de como a região olha para o futuro. Além dos indicadores avaliativos ou descritivos de comportamento mais clássicos sobre o momento presente ou do passado próximo, o PNUD objetivou focar naquilo que os entrevistados esperam, com maior ou menor esperança, relativo aos tempos vindouros.
Essa inquietude se inserta não somente na proposta de vários processos paralelos de questões sobre a agenda pós-2015 (visitados muito frequentemente em artigos e notícias de investigação Humanum), mas sim uma revalorização geral por parte das ciências sociais e dos indicadores “débeis”. Baseados em medidas subjetivas, diante à tradicional confiança nos indicadores duros (variáveis econômicas, quantitativas, demográficas, de comportamento observável, etc.), as tentativas de medição de variáveis ligadas ao bem-estar pessoal e às concepções do indivíduo daquilo que é uma boa vida vem sendo crescentemente legitimada pela comunidade acadêmica, assim como pelos gestores de políticas públicas. O auge dos estudos sobre questões tais como bem-estar ou de felicidade demonstra isso.
Nos últimos anos, tanto instituições nacionais, como organismos multilaterais tem promovido a realização de estudos baseados em medidas subjetivas de conveniência, considerando que os indicadores tradicionais, tais como a renda, são insuficientes para medir a qualidade de vida das pessoas, pois as pessoas nem sempre são idênticas e homogeneamente racionais, portanto suas escolhas não vão maximizar do mesmo modo suas oportunidades.
É importante saber o que os jovens latino-americanos esperam do futuro? Nossa resposta é sim. O desenvolvimento é mais do que o fornecimento de alimentos, saúde básica e habitação.
Alguns exemplos: o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD – foi vanguarda na construção de indicadores internacionais comparáveis que medem o bem-estar das pessoas, além da renda, através do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – e incluiu além de seu informe mundial de 2010 com tabelas com dados sobre percepções de bem-estar individual e o bem-estar cívico e da comunidade como complemento das estatísticas habituais.
O Banco Interamericano do Desenvolvimento – BID – promoveu estudos sobre indicadores subjetivos de bem-estar e felicidade em assuntos como a insegurança dos cidadãos, redução da pobreza e emprego. O Banco Mundial também tem promovido amplos debates sobre as medidas de felicidade com complemento necessário aos indicadores tradicionais como o PIB, tentando dar conta das oportunidades que esses tipos de dados podem abrir para aperfeiçoar as políticas públicas, assim como suas limitações. Alguns países também tem avançado na oficialização e coleta de dados baseados em indicadores débeis /subjetivos como parte de seus sistemas de estatísticas nacionais.
É importante saber o que os jovens latino-americanos esperam do futuro? Nossa resposta é sim. O desenvolvimento é mais do que o fornecimento de alimentos, saúde básica e habitação. Os dados mostram, por exemplo, que muitos jovens entrevistados têm uma avaliação pobre da transparência das instituições, mas não são tão pessimistas em relação à possibilidade de que haja melhoras na área. Uma de suas preocupações mais urgentes é a violência, mas não esperam muitos avanços em suas opções para viver, crescer e se desenvolver em lugares seguros. É certo, as críticas aos serviços educativos são severas, embora não se espere avanço também nessa área.
De modo que além dos números objetivos do desempenho atual, os dados subjetivos mostram que não todas as esperanças sobre o futuro têm a mesma dinâmica: “acho que conseguirei me formar” pode não conviver com “temo ser vítima da violência”. Há sinais de alerta sobre aquilo que gera maiores e menores temores, incertezas ou desesperança – que, em suma, diminuem as possibilidades de bem-estar e o pleno desenvolvimento das capacidades pessoais.
Um índice de expectativas tenta ser, assim, um guia para identificar quais as principais desesperanças, e, portanto, para focar esforços para diminui-las com políticas públicas, incentivos para a sociedade civil e ações para a mudança. Os jovens estão certamente dispostos ao diálogo com os adultos sobre o melhor futuro possível, de modo que os dados do índice melhorem constantemente nas futuras medições.
*Essa coluna foi publicada originalmente na revista Humanum do PNUD.
Fonte: America Economia