O GERENTE E O ESTRESSE
Eline Rasera
Esse é o titulo de um dos livros de Karl Albrecht, que pode ter contribuído muito com os profissionais da década de 1980. Nessa época, falar sobre estresse e qualidade de vida nas empresas era quase que um tabu, assunto desnecessário paras alguns empresários. As organizações eram ainda resistentes, mas os profissionais, principalmente os líderes, já davam sinais de dificuldades para lidar com as pressões do dia a dia.
Conciliar família, cobrança por resultados, necessidade de desenvolvimento profissional, e outras demandas, exigia cada vez mais tempo e esforço das pessoas. O mercado mais competitivo, a globalização chegando com tudo, as inovações ocupando espaços rapidamente e maior produtividade para atender a sociedade então mais consumidora, era a realidade do momento.
E quais os sinais de dificuldades que os profissionais apresentavam com certa frequência? Sintomas físicos e emocionais. Problemas de saúde como significativo aumento de doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade, síndrome do pânico, entre outras.
Era hora de parar! Repensar valores e mudar hábitos. E as empresa? Na ocasião, pouco preparadas para lidar com o problema, iniciavam alguns programas, discutiam o assunto, resistiam, pois talvez fosse somente mais um modismo, enfim, se mobilizavam um tanto timidamente.
Hoje, ainda que todos já estejam bastante familiarizados com o assunto, vale a pena um olhar atento, pois é comum a existência de profissionais que ainda negligenciam o cuidado consigo mesmo.
Voltando ao estresse, um conceito muito interessante é o “Mecanismo de Luta ou Fuga”. O que vem a ser e o que tem a ver com o estresse?
“A reação de luta ou fuga é uma resposta do organismo a uma situação de forte estresse na qual se precisa de uma atividade muscular intensa para poder reagir a uma situação de perigo eminente “lutando” ou “fugindo”. Nesse processo, o coração aumenta a freqüência cardíaca, a força de contração e a pressão arterial; o pulmão aumenta a freqüência respiratória e a dilatação dos brônquios; o sangue é direcionado aos músculos, a pupila dilata e demais alterações em nosso corpo.” (Introdução `a Fisiologia).
Podemos dizer que uma situação de perigo externo, quando percebido pelo nosso cérebro, faz com que nosso organismo se prepare para uma luta ou fuga, ou seja, para uma reação. Perfeito!
E o que vem a ser o estresse do dia a dia? Toda vez que o nosso cérebro “interpreta” uma situação que pode ser desde um confronto pessoal, um feedback negativo ou qualquer outra adversidade que possa parecer como uma “ameaça”, um “perigo”, nosso organismo desencadeia os mesmos mecanismos que nos prepara para reagir. Como provavelmente, nesse caso, não teremos nenhuma ação de lutar ou precisaremos fugir, nosso organismo retorna ao seu estado “natural” de relaxamento. Acontece que, ao longo do tempo, quando a pessoa vive muitas situações extremas e, portanto, mobiliza muito o organismo, com o tempo o corpo passa a apresentar uma “sobrecarga” e assim, os sintomas do estresse, já mencionados.
Mas como evitar todo esse processo vivendo em um mundo ainda tão exigente como o nosso?
Existem algumas maneiras. Antes de tudo, uma tomada de consciência. A decisão de cuidar de si mesmo, mudar hábitos é muito importante. A meditação, antes restrita a uma população específica é, atualmente, uma técnica comprovada para busca de equilíbrio. Mudança de padrão mental, ou seja, buscar alterar o padrão registrado em nosso cérebro por outro modo de agir, fazer diferente, interpretar os eventos da vida de outra forma. O Coaching tem se mostrado bastante eficaz para uma qualidade de vida melhor.
Mas o primeiro conceito a ser modificado é o de que somos profissionais competentes, importantes e valiosos para nossas organizações, mas jamais insubstituíveis!
Eline Rasera, psicóloga, coach e professora do curso de Pós-graduação em Administração de Empresas da IBE Conveniada FGV.
Fonte: Panorama de Negócios