“A China é complicada demais para alguém achar que entende muito sobre ela ”. Assim Rui Cavendish, da Arc Capital, que para nós é especialista em China, abriu sua participação no Stock Pickers desta quinta-feira.
Como “complicado” não é o mesmo que indecifrável, decidimos dedicar o episódio 73 do Stock Pickers a compreender como funciona a segunda maior economia do mundo — e acabamos entendendo também como algumas das maiores empresas da B3 podem sofrer os efeitos colaterais da Guerra Comercial promovida pelo governo Trump.
Apenas entre janeiro e julho deste, a China importou US$ 21 bilhões em mercadorias do Brasil, e sustenta grande parte da demanda de empresas como Vale, Petrobras, Suzano e outras. Hoje a China é o maior parceiro comercial do Brasil
Além de Cavendish, trouxemos também Roberto Dumas, professor do Ibmec, Insper e FIA. Dumas passou 20 anos no Itaú BBA, trabalhou no NDB (New Development Bank, o banco dos BRICS, que tem sede em Xangai) e já escreveu dois livros sobre o país — o segundo sai nos próximos meses.
Contexto
Não dá para entender a economia da China sem antes compreender como funciona seu sistema econômico, que tem o nome oficial de “socialismo de características chinesas”, mas é bem diferente de socialismo.
“É capitalismo de Estado”, resume Dumas. “A China foi comunista de 1949 a 1979, até quando entrou o Deng Xiaoping. Ele sabia que o comunismo não dava certo, mas não poderia tirar o Partido Comunista Chinês do Poder, ou não conseguiria fazer as reformas”.
“Deng implantou a meritocracia, que lá chamam de sistema de responsabilidade. O governo dava insumos ao produtor, ficava com parte da produção e o excedente permanecia com o produtor. Depois de 1994 o governo parou de dar insumos e a China se transformou de capitalismo estatal. Mas ninguém chama por esse nome”, sintetiza.
As ações
A demanda da China por produtos brasileiros costuma ser observada de perto pelos analistas e stock pickers. Mas a guerra comercial que o governo Trump promove contra os chineses pode trazer um efeito colateral sério para as empresas brasileiras que não parece estar tendo a mesma atenção.
“A China tem balança comercial extremamente positiva com os países desenvolvidos. Essa é a fonte de dólares e é com esses dólares que a China paga suas contas no mundo, inclusive no Brasil. Se a China perde o mercado americano, perde sua maior fonte de dólares”, explica Cavendish.
“As reservas de dólar por lá estão renovando as baixas históricas sucessivamente, em breve ela não vai conseguir pagar, a não ser que as empresas brasileiras aceitem receber em yuan. Hoje, só Rússia, Venezuela, Irã e Angola aceitam, e para pagamentos de petróleo”, conclui.