De tempos em tempos, o mercado passa por revoluções industriais. Elas nos trazem novas estruturas organizacionais, novos conceitos e, principalmente, novas tecnologias. A tecnologia é, e sempre foi, a força motriz das revoluções industriais que ocorreram ao longo dos últimos três séculos.
A primeira revolução industrial foi marcada pela substituição da mão de obra humana por máquinas movidas a vapor; a segunda pela criação do sistema fabril mecanizado, novos processos de fabricação do aço, eletricidade e motor de combustão; e a terceira pelo avanço das áreas de robótica, informática, telecomunicações e nanotecnologia.
Atualmente, uma nova revolução se desdobra na frente dos nossos olhos. Desta vez, as tecnologias digitais são o diferencial. Ela é chamada de indústria 4.0. Mas, afinal, o que isso significa? Neste artigo, nos aprofundaremos no conceito de indústria 4.0, sua aplicação, impactos e desafios a nível global e nacional.
Origem do termo
A origem do termo indústria 4.0 aconteceu na Feira de Hannover de 2011. O termo buscava resumir as transformações realizadas dentro dos processos industriais por meio da automatização e informatização.
O seu impacto foi imenso em todos os processos, especialmente no industrial, portanto é vista como a quarta revolução industrial, o que explica o uso do numeral quatro.
O que é indústria 4.0?
Para começar, precisamos entender que a indústria 4.0, assim como as revoluções industriais precedentes, não é constituída por uma característica única. Na realidade, podemos defini-la como um conjunto de tecnologias que buscam a automação e troca de dados, baseada principalmente na IoT ou Internet das Coisas.
Por sua vez, a IoT é uma tecnologia que permite que os objetos conectados pela internet possam compartilhar informações entre si, permitindo o desenvolvimento de ações e tomadas de decisões de forma autônomas, baseando-se nessas informações.
Todo esse processo é fundamentado no Machine Learning, uma tecnologia que possibilita a automação de respostas a partir da inteligência artificial e big data.
Em resumo, a Internet das Coisas é uma tecnologia que permite que objetos “ganhem vida” para tomar decisões através do Machine Learning.
Outras tecnologias que compõem a indústria 4.0 são a Cloud Computing, ou computação em nuvem, que permite o armazenamento de dados em servidores remotos, capacitando o acesso remoto; Cobots, que são robôs colaborativos que atuam em conjunto com os recursos humanos e Digital Twin, o gêmeo digital, capaz de gerar simulações virtuais em diversos projetos, dos objetos mais simples aos mais complexos, permitindo realizar simulações precisas e baratas.
Sendo assim, a indústria 4.0 se serve desse conjunto de inovações tecnológicas para a informatização e automação dos seus processos, criando assim as chamadas fábricas inteligentes.
Gerando fábricas inteligentes
A principal área afetada pela indústria 4.0 é a produtiva. O processo de manufatura é praticamente remodelado para favorecer a aplicação das inovações tecnológicas e gerar as fábricas inteligentes.
Essas fábricas não são apenas formadas por máquinas automatizadas, ou seja, máquinas que realizam apenas os processos que estão programadas para executarem.
Elas se destacam por serem formadas por máquinas que executam processos que são capazes de, cada vez mais, tomarem decisões de forma descentralizada e efetivas.
Isto ocorre porque, em meio à execução do processo, são gerados novos dados que podem ser utilizados para melhoria contínua do equipamento que executa a ação. Além disso, as empresas podem acompanhar seu desenvolvimento, desempenho e execução em tempo real.
Fábricas inteligentes já são uma realidade. Como exemplo, podemos citar a BMW Group e sua planta em Regenburg na Alemanha.
Em 2018, esta fábrica utilizou uma plataforma customizada chamada BMW Internet of Things para produzir cerca de 320 mil veículos. Os resultados foram expressivos. A empresa obteve uma redução de 5% nos custos de logística e redução de 5% nos problemas de qualidade em sua linha de produção.
Outras empresas também já fazem parte da indústria 4.0, como a Foxconn e a Danfoss, na China, a Rold, na Itália, e a Sandvik Coromant, na Suécia, as quais relatam melhorias significativas em seu processo de produção.
Indústria 4.0 no Brasil
Atualmente, o Brasil ocupa uma parcela muito baixa em termos de participação na indústria 4.0, estando ainda em seu estágio inicial.
De acordo com os últimos dados lançados pelo governo brasileiro, o relatório “Readiness for the Future of Production Report 2018” (WEF), mostra o Brasil ocupando a 41ª posição em estrutura de produção e a 47ª posição nos vetores de produção da indústria.
Em 2018, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), apresentou que menos de 2% das organizações brasileiras estão, de fato, inseridas nessa indústria. Por outro lado, há uma previsão de que até 2027, 24% das indústrias nacionais estejam atuando nela.
Portanto, para crescer neste número, é necessário superar diversos desafios. Um deles, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é que 46% das grandes empresas industriais acreditam que para aumentar o investimento em novas tecnologias é preciso reduzir a burocracia e as regulações no Brasil e 14% acreditam que essa ação seria um estímulo para elas investirem.
Além disso, hoje a indústria representa menos de 10% do PIB brasileiro. Tal situação reflete em alguns índices importantes. O Brasil ocupa a 69ª posição no Índice Global de Inovação e em 2016 ocupava a 29ª posição no Índice Global de Competitividade da Manufatura. Ademais, entre 2006 e 2016, a produtividade da indústria brasileira caiu mais de 7%.
De acordo com o que foi apresentado, é necessário que o governo estimule o fomento da indústria nacional de forma orgânica, ou seja, não através interferência estatal, mas, sim, da redução da burocracia, impostos e regulações, servindo como uma injeção de ânimo nos empreendedores brasileiros e, consequentemente, levando-os a investirem em inovações tecnológicas e em pesquisa e desenvolvimento de soluções disruptivas.
Portanto, os principais desafios para que o país ingresse de vez na quarta revolução industrial são de caráter econômicos e educacionais, visto que, além das justificativas econômicas apresentadas acima, é necessário capacitar os brasileiros para atuarem nesses novos setores, sendo preciso que instituições educacionais ofereçam cursos de qualidade, capaz de munir os estudantes para os desafios apresentado pela indústria 4.0.
Quais são os impactos da Indústria 4.0?
Obviamente que todas essas mudanças, e a maneira como elas atuam, não geram impactos apenas no ramo industrial, mas em todas as áreas.
– Relações de consumo
Na sociedade, o principal impacto acontece nas relações de consumo. A indústria não dita mais o padrão de consumo das empresas. A partir desta revolução é a sociedade quem dita o padrão de produção das empresas.
Isso quer dizer que, em um tempo em que geramos mais dados do que em qualquer outro ponto da história humana, a indústria tem um panorama mais complexo dos desejos e necessidades da sociedade, modelando e adaptando seus produtos, valores e cultura organizacional.
Assim como em outras revoluções industriais, a mão de obra e acordos trabalhistas são outros fatores que são impactados diretamente. Os postos de trabalhos manuais que fazem uso de atividades repetitivas e braçais, já em decadência desde a terceira revolução industrial, terão uma queda ainda mais acentuada.
– Estratégia
Assim como profetizou Peter Drucker, em 1959, em sua obra “Uma era da descontinuidade”, o trabalhador do conhecimento, aquele que usa mais o conhecimento técnico do que a força bruta, será mais valorizado, apresentando um papel cada vez mais estratégico dentro das organizações.
Excluir a necessidade da repetição e força humana em muitos processos gera uma flexibilização das funções que por ora são rígidas, modelando os acordos trabalhistas em relação à carga horária e até mesmo ao home office.
– Postos de trabalho
Entretanto, apesar de parecer um contrassenso, a previsão é de que a quantidade de postos de trabalhos aumente. Assim como a profissão acendedor de poste foi extinta devido a chegada da energia elétrica, e diversos outros postos foram criados devido a essa tecnologia, como eletricistas e engenheiros elétricos, o mesmo ocorrerá com a indústria 4.0.
Um estudo da Boston Consulting Group (BCG), mostra que há uma tendência de aumento de 6% nos empregos até 2025 na Alemanha, principalmente no setor da tecnologia da informação. Sendo assim, a demanda por analista de dados, cientista de dados, engenheiros de Machine Learning e outras profissões relacionadas ao tratamento, manutenção e compreensão dos dados, aumentará significativamente.
Outra área impactada são os negócios.
Uma pesquisa global da Delloite, envolvendo cerca 1.600 executivos de 19 países, sendo 102 brasileiros, mostra que, levando em consideração os entrevistados do Brasil, aproximadamente 39% acreditam que os meios tecnológicos são capazes de promover um diferencial competitivo. Já 42% pensam que esses meios são capazes de gerar uma grande mobilização de cadeia de operações.
– Vantagens
Neste mesmo estudo, 87% do total dos executivos, creem que a quarta revolução industrial pode oferecer vantagens ao mercado empresarial e à população com igualdade social e estabilidade econômica.
Com a capacidade das fábricas inteligentes de levar em consideração as necessidades e desejos do consumidor, a customização em massa será uma realidade. Isso fará com que os índices de fidelização e satisfação do cliente aumentem, visto que cada cliente será valorizado pela experiência proporcionada, fazendo-o se sentir único.
Já especificamente no Brasil, como visto que ainda estamos no estágio inicial desse novo cenário, o maior impacto será nas adaptações das indústrias nacionais e nas atualizações administrativas e políticas que se relacionam à indústria 4.0.
A atualização da mão de obra também terá um grande impacto no país, visto que se demandará cada vez mais profissionais qualificados para o desempenho das novas funções criadas pelas inovações tecnológicas.
Como se pode ver, a indústria 4.0 é uma revolução irrefreável, sendo já uma realidade em países como Alemanha, Estados Unidos e Japão. No Brasil, no entanto, será necessário um esforço conjunto da iniciativa privada e do governo para superar os desafios, sendo estes, principalmente, de caráter econômico e educacional.
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