COMPORTAMENTO PODE CAUSAR DEMISSÃO?
Eline Rasera
Pode. É o que diz a pesquisa realizada pela Consultoria Roberto Half, com diretores de RH. Profissionais competentes tecnicamente podem ser demitidos pela falta de habilidade em relacionar-se com colegas e chefes. A primeira causa, na pesquisa, é o fraco desempenho da função, seguida pelas dificuldades de relacionamentos.
O psicólogo Howard Gardner, ligado à Universidade de Havard, é conhecido em especial pela sua teoria das múltiplas inteligências. De acordo com essa teoria, temos diversas habilidades, porém uma (ou mais) tende a se sobressair.
Um excelente jogador de futebol apresenta elevada Inteligência Corporal, o que lhe permite facilmente o controle da bola. Políticos, líderes espirituais, grandes oradores, são portadores de alta inteligência linguística, o que lhes conferem a facilidade de comunicar para grandes públicos.
Seguindo esse conceito, a capacidade para se relacionar, chamada de Inteligência Interpessoal, é o que facilita os contatos com outras pessoas. Também bastante relacionada com a Inteligência Intrapessoal, que permite o autoconhecimento.
Quanto mais o indivíduo conhece suas forcas e fraquezas, mais facilmente se apresenta e melhor consegue estabelecer relações de sucesso. Grandes profissionais, formados em escolas de elevado conceito educacional muitas vezes com doutorado, mestrado, podem encontrar dificuldades no campo das relações com pessoas e, dependendo da atividade que executa, não ser bem sucedido.
E por que isso é importante?
Segundo David Servan-Schreiber, doutor em Ciências Neurocognitivas: “Não importa nossa vocação, as circunstâncias sempre nos chamam a interagir. Essa realidade é inescapável e nossa capacidade para nos relacionar com os outros determina nosso sucesso a longo prazo”.
E na organização? Qual a necessidade de relacionar-se adequadamente?
Realizar importantes parcerias, conduzir equipes a resultados fantásticos, abrir espaços em outras áreas e setores da empresa, negociar, persuadir, ser ouvido em suas argumentações, aprender, ensinar, estabelecer boas relações com stakeholders, estão entre as vantagens de saber ser gentil, colaborar, ouvir e analisar o assunto, contra argumentar com respeito à opinião do outro, tom de voz adequado, postura corporal interativa (e não invasiva) e outras características que passam a ser tão importantes quanto outros conhecimentos.
E a boa noticia: Inteligência Interpessoal (assim como a Intrapessoal), pode ser desenvolvida. Muitas pessoas as possuem naturalmente. Com certeza nos lembramos facilmente de um amigo, alguém da família, colega de trabalho, que se relaciona com tanta facilidade, que contagia quem está perto. Mas cuidado: relacionar-se adequadamente não é a mesma coisa que fazer brincadeiras o tempo todo ou mesmo tipos de contatos onde a pessoa torna-se inconveniente.
Inteligência Interpessoal na organização pressupõe relações agradáveis, objetivas e com excelentes resultados. Para todos.
E para quem deseja aprimorar essa competência, vontade, disponibilidade e treino, são ingredientes básicos, porém, se mesmo assim encontrar dificuldades, a ajuda de profissionais da área do comportamento são indicados e dão ótimos resultados.
Afinal, concluir um dia de trabalho exaustivo, mas com a deliciosa sensação da interação humana é também importante numa carreira bem sucedida.
Eline Rasera, psicóloga, coach e professora do curso de Pós-graduação em Administração de Empresas da IBE Conveniada FGV.
Fonte: http://www.panoramadenegocios.com.br/2014/10/coluna-da-professora-e-psicologa-eline_30.html