Os líderes devem tomar cuidado com as aceleradas mudanças do mundo atual. Ao se tornarem mais receptivos, integradores e ter suas ações guiadas por um propósito, eles vão gerar benefícios tanto para o negócio quanto para a sociedade.
Sem dúvida, o Brexit e as eleições nos EUA provocaram mudanças políticas em 2016, trazendo para muitos um sentimento claro de insegurança. A globalização não tem favorecido a todos e a crescente desigualdade preocupa o mundo todo.
Já que estamos na transição de uma revolução industrial para uma digital, para qual futuro estamos nos atirando tão rapidamente?
Os mercados conduzem a economia global e, ao fazerem isso, desempenham um grande papel de configurar a ordem do dia a nível mundial. Apesar de os líderes empresariais não serem democraticamente eleitos, eles necessitam parar para ver as mudanças tomarem forma. A função deles não é apenas a geração de renda.
Como os líderes devem reagir?
Acredito que agora, mais do nunca, necessitamos de líderes para inspirar pessoas para trabalhar juntas e criar um futuro melhor. Um futuro no qual os fatos contam.
Um futuro no qual as empresas se empenham para gerar um valor a longo prazo que, em última instância, beneficia clientes, pessoas e comunidades.
Falar é fácil. O difícil é criar um negócio que incorpora esses valores de verdade, em algo tangível.
Nos últimos meses, conheci pessoas que estão fazendo exatamente isso, focando em três pilares:
1.Adaptar-se e ser flexível.
Apesar de muitas empresas adotarem o discurso de se adaptar a mercados locais, eu recentemente conheci um varejista que levou dois anos e meio para criar o melhor ambiente para que seu negócio crescesse em um novo mercado. Esse varejista construiu sua marca usando uma abordagem consistente em todo o mundo. Entretanto, para entrar um novo mercado emergente, ele teve de superar barreiras práticas, como restrições à propriedade estrangeira no local e questões culturais.
Após um longo e saudável processo de negociação, governo e empresa chegaram a um acordo mútuo. O governo modificou suas regras e o varejista flexibilizou o seu modelo corporativo ao desenvolver uma supply chain mais local, com o abastecimento de bens acontecendo dentro do próprio país e expandindo o portfólio de produtos para refletir a cultura local. Essa empresa também treinou quatro vezes mais colaboradores do que o necessário, gerando uma força de trabalho mais qualificada e trazendo vantagens para todos.
Essa visão a longo prazo exige uma liderança de verdade. Ela demanda coragem para quebrar padrões e fazer algo diferente. Também traz a visão de intermediar as ações que levam ao sucesso da empresa.
Vale a pena se perguntar: como você está desenvolvendo agora aquilo que você realmente acredita? Onde você ou sua empresa necessitam ter mais flexibilidade?
2. Valorize e “recicle” pessoas.
A automação e a robótica vão ter um tremendo impacto sobre o trabalho no futuro — e não só os cargos que agregam pouco valor ao profissional ou cargos que exigem poucas qualificações. No ano passado, o Fórum Econômico Mundial apontou que as demissões têm muita chance de se concentrar em cargos de ramos como manufatura, construção e instalação, bem como vendas, administração e produção. Como tratamos essas pessoas para que não fiquem para trás? Enquanto empresas, necessitamos valorizar e requalificar pessoas; precisamos pensar estrategicamente sobre como desenvolver todo esse talento.
Precisamos nos questionar agora: quais os papéis na empresa que têm maiores chances de serem afetados? Quais competências podem ser ensinadas? Como podemos treinar novamente aqueles que querem continuar na empresa?
3. Deixe o propósito ser o seu guia.
A disrupção tem afetado todos os mercados no mundo, geralmente tornando obsoletos os modelos de negócios já existentes. Em meio a tanta incerteza, definir a razão de existir de sua empresa — o seu propósito — em uma visão geral é crucial para estimular a clareza estratégica, motivar a equipe, gerar inovação além do curto prazo e criar impacto positivo mais amplo. Uma pesquisa mundial do EY Beacon Institute e do Harvard Business Review Analytic Services mostra que as empresas com um propósito claro, articulado e bem compreendido lideram em termos de faturamento, expansão e transformações bem-sucedidas, entre outras áreas.
O que o propósito é na prática?
Recentemente, enquanto estava na Índia, conheci um empreendedor que se destacou pelo seu comprometimento com sua justiça e dignidade em uma indústria marcada pelas acusações de práticas antiéticas de trabalho e de trabalho infantil: a manufatura de carpetes. Esse homem seguiu em seu propósito de empregar e pagar um salário justo para as castas menos favorecidas na sociedade, ajudando a construir a compreensão entre culturas e grupos. Isso lhe rendeu um alto custo, uma vez que ele era de uma das mais altas castas. Sua família o condenou ao ostracismo. Hoje, ele está à frente de um negócio bem-sucedido de exportação de carpetes para os EUA, Reino Unido e Europa.
Cada tapete que ele vende possui uma mensagem pessoal de quem o fez; há também um cartão postal que o cliente consegue enviar de volta para o fabricante.
Fazer a conexão entre duas pessoas — tecelão e comprador — é uma forma bem poderosa de reduzir o medo e o preconceito. A partir do propósito que estabeleceu como um guia para suas ações, hoje, com muito sucesso, seus negócios o diferenciaram, conseguindo exportar carpetes para os EUA e para Europa, ao mesmo tempo em que possui um forte impacto local.
Identificando as vantagens
A revolução digital traz uma grande agitação, mas também proporciona ótimas oportunidades. Sim, mudar pode ser doloroso. Mas não devemos perder de vista o potencial transformador nesse cenário. Segundo Joshua Cooper Ramo, em seu livro, o best-seller Seventh Sense: Power, Fortune and Survival in the Age of Networks:
“Liderança é reconhecer onde o poder está e como se adaptar. Você tem que buscar a mudança nos ‘acordes mais profundos da história’. Esse é um deles”
Para mim, liderar é ser receptivo e integrador. Trata-se de criar um negócio que se desenvolve a longo prazo, no que diz respeito a seus clientes, pessoas e comunidades. Tem a ver com diversidade de pensamentos. É assim que você consegue ter soluções bem-sucedidas para problemas complexos. E isso é o que é necessário de todos nós: liderança e coragem.
Fonte: Por Alison Kay, Global Vice Chair de Indústrias da EY em Endeavor Brasil