A maioria dos CEOs do Brasil (84%) está mais preocupada com os fins – leia-se: com os acionistas – do que com os meios – ou seja, a governança corporativa (82%) e a opinião dos conselhos administrativos (68%). Os dados são de uma pesquisa realizada pela revista Consumidor Moderno com a coordenação técnica da consultoria DOM Strategy Partners, que teve a participação de 181 presidentes de grandes empresas do país.
Roberto Meir, consultor especialista em relações com o consumo e o varejo, responsável pelo estudo, afirma que a disparidade entre as preocupações são, na realidade, mais gritantes do que os números que resultam dos depoimentos dos CEOs. “Uma coisa é o que eles dizem, outra é o que dizem os subordinados deles”, diz Meir, pesquisa as tendências do setor também nos Estados Unidos.
“O cenário” a que Meir se refere inclui outros aspectos abordados no estudo. Um deles é a relevância do funcionário para o CEO. No tópico “Tratar o colaborador como se fosse um cliente”, 72% dos presidentes responderam apostar na capacitação e desenvolvimento de profissionais, 57% afirmaram confiar em um bom clima organizacional, e 51% disseram investir em programas de participação nos lucros e remunerações variáveis. Mas Meir novamente contesta os números da própria pesquisa. “Ao contrário do que dizem os presidentes, a maioria dos colaboradores fala que não está sendo treinada, que não tem desafio e que a empresa não oferece retaguarda”.
A inovação das empresas também aparece na pesquisa como uma prioridade, ao contrário do que Meir afirma que é a prática. Sessenta e um por cento dos CEOs disseram apostar em programas de inovação e confiar em tecnologias digitais, e 42% afirmam investir em redes colaborativas e novas mídias. “Na verdade, o brasileiro nunca inovou. No máximo, copia o que fazem lá fora”, diz o publisher da revista Consumidor Moderno.
Segundo ele, “o papel de um líder hoje não é mais só o de ter um bom produto para oferecer ao mercado. Tem, sim, que ter um bom produto. Mas tem também que ter bom preço, canais alternativos, a empresa tem que ser socialmente responsável, ética, cidadã”, afirma. E compara essas exigências ao que se espera do primeiro homem de uma grande empresa atualmente. “O CEO é um executivo que sabe lidar com o mercado e com os colaboradores levando em conta todas essas questões. Mas não é o que temos no Brasil ainda. O nosso CEO de hoje tem um preparo equivalente ao CEO americano dos anos 90, só se preocupa com seus números”, diz Meir.
Para ele, o problema – e a solução – está nas mãos do próprio líder. “Como o foco dele está errado, ele passa isso para todos os níveis de gestores abaixo, que repassam para suas equipes”. O resultado ironicamente são… os maus resultados. “Enquanto isso, os profissionais que pulam de galho em galho, levando fortunas para seus bolsos, mas deixando o cenário bem triste”.
Fonte: Época Negócios