As aflições de empreender
Iniciar um negócio pode ser um movimento inteligente de carreira. O perigo é executar o projeto, sem planejamento, baseado apenas em fantasias ou falta de opções
O mercado de trabalho mudou. O modelo tradicional do emprego para a vida toda faz parte do século passado. A visão contemporânea de carreira exige que os profissionais pensem em novas formas de produzir e gerar renda.
Na construção dessas alternativas, muitos enxergam no empreendedorismo uma nova rota profissional. E aí a vida muda. E não se trata apenas de ter ou não sucesso no negócio – embora isso seja certamente relevante –, mas sim de uma transformação do modelo mental.
O software interno, acostumado desde o início da vida produtiva a ser funcionário de uma organização, estranha a nova forma de trabalhar.
As aflições começam pela incerteza de renda. A ausência de um salário fixo gera um pânico no planejamento financeiro de quem sempre foi acostumado com a previsibilidade de seus ganhos. O antídoto é o planejamento financeiro rigoroso, que permita montar o empreendimento e manter a vida pessoal enquanto o negócio ganha fôlego.
Outro problema é a perda da estrutura corporativa e a consequente necessidade de fazer mais coisas. No início, o dono de um pequeno negócio faz tudo na empresa: desde assinar os principais projetos até servir cafezinho ao cliente. Salvo as exceções de empresas que começam com jeito de corporação, os negócios têm um início pequeno e sem requintes. Essa perda de status deixa em muita gente um gosto amargo e o pensamento de que deveria voltar a ter um crachá corporativo.
Mas um dos maiores equívocos dos empreendedores novatos é associar a abertura de um negócio a uma vida de liberdade. Livre é o funcionário, que pode pedir demissão e ir embora quando não estiver mais satisfeito com o trabalho. Empreender não tem nada a ver com liberdade ou com ter mais qualidade de vida. Ser o próprio chefe dá trabalho, exige tempo de dedicação e cria amarras que não são fáceis de soltar. Lembre-se que o Brasil é um país hostil ao empreendedor – para o que abre e também para o que fecha a sua empresa. Quem precisar encerrar um negócio vai ter de percorrer uma maratona de burocracia.
Iniciar um negócio pode ser um movimento inteligente de carreira. O erro é executar o projeto baseado em fantasias ou falta de opções. O empreendedor com chances de sucesso é aquele que acredita e desenvolve um bom projeto. Empreender pode ser um sonho possível, desde que com planejamento e sem a ilusão da fuga do emprego.
Fonte: Rafael Souto – CEO at Produtive Carreira e Conexões com o Mercado