Analistas do mercado financeiro estão pessimistas com relação a 2015, pois a taxa de inflação tende a repetir a variação deste ano ou, pior, ultrapassar os 6,5% do teto da meta previsto para 2014, pressionada pelos preços administrados, ou seja, aqueles controlados pelo governo que já vêm puxando os resultados para cima. Já com relação à taxa Selic, a expectativa é de 12,5% para o próximo ano, meio ponto percentual acima do que estavam esperando. Mas, mesmo com a alta dos juros, a inflação deve se manter alta, pressionada pelo câmbio. Em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2015, a estimativa é de menos de um ponto, apenas 0,73%.
O professor de Economia da IBE Conveniada FGV em Campinas, Mucio Zacharias, avalia que 2015 vai ser um ano difícil para os governos, empresas e para a população. “Todas as previsões apontam para um ano muito complicado, principalmente no primeiro semestre. A inflação não dará trégua, os juros podem voltar a subir ainda em 2014 e a crise de escassez de água e energia devem alimentar ainda mais a inflação, sem contar no aumento da taxa cambial. Tudo remete a muita cautela e a palavra de ordem é segurança”, diz.
Segundo ele, após as festividades do final de ano é que a maioria começa a fazer contas, e aí já poderá ser tarde. A dica é se planejar o mais rápido possível. “Coloque na ponta do lápis tudo o que sobra mensalmente. Caso tenha dívidas de curto prazo com juros exorbitantes, coloque o pagamento dessas dívidas como prioridade, pois certamente, no decorrer de 2015, se beneficiará dos juros que não vai mais pagar e certamente isso fará com que tenha equilíbrio de caixa”, recomenda.
Mucio explica que o consumo não é ruim, pelo contrário, é muito bom para a economia. “Mas, comprar e depois entrar em dívida rotativa é a mesma coisa que tentar enxugar gelo, não vai dar certo. É mais barato começar a mudar hoje”, acrescenta.
O especialista em Gestão de Pessoas e também professor da IBE Conveniada FGV, Sergio Miorin, está esperando um mercado de contratações desaquecido. “As empresas devem contratar, mas em baixa escala e com dificuldade para encontrar mão obra qualificada”, afirma. Para ele, o destaque será para os profissionais qualificados e proativos, cujas competências comportamentais superem as especializações e que por isso sejam a “menina dos olhos” de qualquer organização.
Por outro lado, as empresas com planejamento e inteligência estratégica apurada não deverão demitir seus profissionais qualificados, mesmo no momento crítico. “Caso o façam, correrão o risco de não encontrar outro do mesmo nível”, conclui.
Além de menos vagas criadas, com queda de 38% ante os primeiros 10 meses de 2013, (de acordo com o Caged) a diferença entre salários de demitidos e contratados tem crescido, o que contribui para queda do rendimento médio das famílias. Além disso, o ganho real dos salários também vem perdendo força. Segundo o Dieese, o ganho acima da inflação neste ano foi de, em média, 1,5 ponto, ante 2,5 pontos em 2013. Para economistas, a renda média menor tende a levar pessoas fora do mercado a voltar a procurar trabalho.
Quando a situação chega ao ponto do endividamento, é que muitos equívocos já foram cometidos. “O planejamento deve ser a palavra de ordem nesse caso. É uma questão de cultura. Devemos ter isso em mente e transformar em hábito, uma rotina de vida para toda a família”, ensina Mucio.
Para começar o ano de 2015 com saúde financeira, as compras de final de ano só devem ser feitas com base no orçamento real e não nos bônus, como o 13º salário. Além disso, o orçamento deve ser organizado com a certeza do que entra e sai do bolso de todos os membros da família.
O professor também destaca que, obviamente, o descontrole e a falta de planejamento das famílias endividadas não podem ser resolvidos da noite para o dia, mas é um processo que irá resultar em um futuro “maravilhoso”.
Foto: Professor de Economia da IBE Conveniada FGV, Mucio Zacharias
Analistas do mercado apontam um ano de 2015 engessado.
Fonte: Panorama de Negócios