A nossa cultura de guerra
O avanço da tecnologia permitiu excelentes melhorias, tanto no campo da saúde, economia e qualidade de vida, como nas relações com o mundo e com outras culturas. Sem sombra de dúvida, hoje se tem mais recursos, o que propicia vida mais longa e saudável.
Mas será que também progredimos como seres humanos, mental e emocional? Por que ainda necessitamos da guerra? Por que percebemos como “inimigo” os que pensam ou apresentam opções de vida diferentes da nossa e, às vezes, até combatemos de maneira brutal e cruel? Na sociedade, política e religião. Pra começar.
E a tecnologia tem permitido, principalmente através das redes sociais e a mídia em geral, que essa “batalha” tenha se intensificado nos últimos tempos.
Sempre fomos assim e, agora com a tecnologia estamos tendo a oportunidade de “extravasar” mais essa característica, ou nos tornamos mais intolerantes nos últimos tempos? Bom assunto para estudos e pesquisas.
De qualquer maneira, as eleições, a homofobia, o preconceito em geral vem sendo revelado de maneira tão espantosa, como um filme de um campo de guerra – “guerra psicológica”. Não se utilizam tantas armas físicas como numa batalha (embora algumas vezes sim), mas tanto os ataques pessoais como as ofensas e humilhações são armas poderosas e também matam.
Nas eleições, os candidatos procuram por deslizes de seus concorrentes para usar como ataque nas campanhas, também os (candidatos) que se sentem no direito de explorar seu preconceito no momento em que é ouvido por uma grande maioria de pessoas, e uma sociedade, onde alguns covardemente agridem verbal e fisicamente os “diferentes” (deles).
Numa empresa, todo bom profissional sabe que no exercício da atividade, deve utilizar seus conhecimentos, habilidades, experiências para executar o trabalho da melhor maneira, o que significa realizar o que trará benefícios para todos : sociedade, acionistas, funcionários, stakeholders.
Os que governam são eleitos (contratados) pela sociedade para o mesmo fim e não para expor sua opinião e se armar de situações para combater o opositor. O que está acontecendo com a nossa política? No que se transformou a nossa sociedade?
Ainda comparando com as organizações, o profissional que tende a buscar culpados, se defender com justificativas vazias e sem sentido e, pior, procurar em seus “opositores” formas para revelar os fracassos (deles) para se auto promover, torna-se um tipo de perfil comportamental totalmente indesejado pelas empresas.
Um bom profissional também comete erros, sem dúvida, mas a primeira condição quando isso acontece, é assumir. Se estiver em cargo de liderança e a equipe (ou alguém desta) cometer uma falha, também é de responsabilidade da liderança. Não se admite desculpas como: ”eu não sabia”. Deveria saber e ponto final. Se não sabe, não tem competência para liderar. É assim que funciona.
A segunda condição que define a alta performance, é a coragem de perceber que, tendo havido um problema, é da competência do líder a busca por respostas.
E, finalmente, através de técnicas especificas, dar foco na solução dos problemas, tratando-os com a devida importância e envolvimento dos interessados.
Assim funciona uma organização. Sem culpas, sem agressões e sem jogos emocionais que somente denigrem e atrapalham a carreira, sem contar com os danos financeiros e de resultado que acarretam `a organização.
Atitudes nada fáceis numa sociedade acostumada à cultura de guerra e reforçada por aqueles que deveriam ser o exemplo de competência, equilíbrio emocional e caráter.
Quem age assim numa organização séria tem seus dias contados e o fracasso na carreira é consequência provável. E pior, pode ser demitido.
Assim como as empresas selecionam rigorosa e criteriosamente seus líderes antes de contratá-los, nós também devemos através do voto, selecionar de maneira criteriosa nossos candidatos, pois eles representarão nossos ideais e desejo por um país melhor.
Eline Rasera, psicóloga, coach e professora do curso de Pós-graduação em Administração de Empresas da IBE Conveniada FGV.
Fonte: Panorama de Negócios